Esta é a Ilha de Paulo Afonso, a parte histórica desta cidade sertaneja que já tem 120 mil habitantes e é polo de desenvolvimento regional. Ao ser transformada em Ilha, por si só já é um atrativo turístico.

E Paulo Afonso possui, há muitas décadas, um dos mais modernos aeroportos da região...

Nesta quinta-feira, 17 de novembro o Aeroporto de Paulo Afonso foi uma grande festa... Não pude estar lá, mas vi, pelas fotos, pelos sorrisos das pessoas, nas redes sociais, uma alegria estampada nos seus rostos que pareceu real, um misto de felicidade pelo que acontecia e expectativa boa do que haveria de vir.

Autoridades no Aeroporto de Paulo Afonso, em 17/11/2022

Falo do evento que mostrou a retomada dos voos para Paulo Afonso, anunciados como importantes – e realmente são - para a também retomada dos projetos de turismo para a região.

E tive como associar esse grande evento com outro, acontecido, há exatos 17 anos, quando, diante de uma banca exigente de arguidores em Lisboa eu dizia alto e em bom som, até tocado por viva emoção, das muitas, imensas, grandiosas belezas desta terra sertaneja na defesa da minha tese de mestrado.

Como é próprio dos que concluem um curso universitário, voltei com a cabeça cheia de projetos, ideias, sonhos para serem compartilhados com o poder público, com os empresários, porque, como aprendi com Chefe Abel, prefeito da primeira metade dos anos de 1980 – sim, faz muito tempo – acreditar que podemos fazer já é meio caminho andado.

Quatro anos depois de concluir este curso, pago com muito esforço com o pequeno salário de aposentado, tive a oportunidade de gerir um órgão municipal nesta área: turismo, um cargo sem muita importância na escala hierárquica da gestão municipal e nele, ao me esforçar, apresentar propostas de sonhos altos, fui obrigado a ouvir de um secretário que “turismo não dá voto”.

Apesar do recado, busquei mostrar a todos o quanto valioso é o turismo para a economia de um lugar. Mostrei os números do grande sucesso de países como a Espanha, França, Itália que têm o turismo como sua principal receita e que investem muito naquilo que possuem ou que criam para tal fim, para atrair cinquenta, cem milhões de pessoas para suas terras todos os anos.

Eu que sou das antigas, dos tempos em que por aqui ainda desciam os poderosos jatos da Varig – e eu fui gerente da Varig em Paulo Afonso por quase cinco anos e fui fazer curso no Rio de Janeiro para que se tivesse aviões ainda mais potentes em Paulo Afonso – exultei, fiquei mesmo muito feliz com o retorno dos voos vindos de Salvador e logo, daqui a um mês, também vindos do Recife.

E estamos falando dos dois principais portões de entrada do turismo no Nordeste: Salvador e Recife.

Claro que externo o meu aplauso à gestão do Prefeito Luiz de Deus e sua equipe e aos diálogos exitosos com o governo do Estado da Bahia. Muito importante essa parceria como todas as outras parcerias de que vive o turismo em todo o mundo.

Lagos e cânions do rio São Francisco no entorno da Ilha de Paulo Afonso

O turismo não é uma ilha isolada no mundo. Ele só terá sentido se, de fato, for ponte, união de interesses, despojamento de narcisismos, entrega. E pro falar em ponte, nada como lembrar da grande necessidade de mais uma ponte de acesso à ilha, tantas vezes prometida...

E, por isso mesmo, a explosão de alegria da chegada dos voos, que infla o ego de secretários e outros gestores, não pode ficar em si mesmo. Vai ser preciso que a gestão municipal entenda, de uma vez, primeiro da real importância que é o turismo para o desenvolvimento regional. Depois, que essa não é uma atividade que começa e acaba em si mesma. Ao contrário, ela sempre vai depender de outros para se completar.

E, a chegada desses voos a Paulo Afonso, mais uma vez – se lembrarem, já tivemos muitas outras empresas aéreas, bem antes e principalmente depois da Varig – precisa ser entendida com algo que deve ser permanente, ligando esta região toda aos dois portões de turismo do Nordeste e dali para o mundo, como divulgou bem a empresa Gol em sua chegada a Paulo Afonso nesse voo festivo de 17 de novembro.

E a parceria necessário para o boom do turismo em Paulo Afonso, passa, inicialmente, pela estreita e urgente necessidade de total harmonia entre as muitas secretarias da gestão municipal, porque turismo é união de forças. Além da Secretaria de Turismo, também a de Cultura e Esportes e Eventos, a de Meio Ambiente, a de Educação, a Sedes, Infraestrutura e outras precisam ter ações que se completam para o êxito total da gestão.

Fica parecendo que o projeto de um não tem nada a ver com o interesse do outro. Grande engano. O turismo é sempre a soma de muitos interesses. A limpeza de um lago, feito por um órgão, beneficiar outros. Um grande evento como o Coegemas, da Sedes, ao movimentar hotéis, restaurantes, passeios, é um evento também turístico... Lembrando que Paulo Afonso tem um povo acolhedor, uma boa rede de hotéis e restaurantes e um comércio pujante...

Não custa muito senhores gestores procurar associar os interesses políticos a pessoas competentes em cada área da gestão, colocando em cargos estratégicos e importantes para que se tenham bons resultados as pessoas que, de fato, por mérito, tenham um bom conhecimento dessas áreas e se sintam prontos para lutar por bons resultados. Que sejam correligionários, mas competentes em sua área.

E é preciso urgente fazer o dever de casa, restaurar os atrativos turísticos. Por exemplo, a placa do Núcleo de Atendimento ao Turista é um cartão postal negativo há pelo menos três anos.

Há a urgente necessidade de se recuperar e atualizar as placas de sinalização turística que devem ser bilíngues. As praças e monumentos, que também são atrativos turísticos, merecem ser olhadas com mais carinho e respeito.

Ah! E como está a acessibilidade para pessoas com deficiência, idosos, de dificuldade de locomoção?

Usinas Hidrelétricas, início do cânion do rio São Francisco e Ilha de Paulo Afonso-BA

E há a urgente necessidade de se retomar o diálogo com a Chesf porque dentro da área da hidrelétrica estão os principais atrativos turísticos da cidade de Paulo Afonso, como o complexo de usinas hidrelétricas - três delas subterrâneas, interligadas, únicas no mundo - o teleférico, parado há mais de 10 anos, os mirantes do cânion e das cachoeiras e as próprias cachoeiras que, nos tempos de cheia do rio São Francisco, voltam a ser o maior espetáculo das águas em toda a região.

Catamarã no cânion de Paulo Afonso e Ponte Metálica D. Pedro II

Também é importante esse diálogo com a Chesf para melhor se explorar o principal trecho do cânion do São Francisco, os 17 quilômetros dentro do município de Paulo Afonso com os paredões de até mais de 100 metros de altura e passeios nessas águas ainda muito insipientes.

Lago de Moxotó

É preciso diálogo, parceria com grandes empresários para que as tantas e muitas águas dos grandes lagos de Paulo Afonso como Moxotó (1,2 bilhão de metros cúbicos de água) e o da Usina Paulo Afonso 4 e o Canal de Paulo Afonso 4 sejam melhor explorados com a oferta de passeios e atrativos outros.

Raso da Catarina - Baixa do Chico

Não tem como esquecer de falar do Raso da Catarina, da Serra do Umbuzeiro, da Cachoeira de Paulo Afonso que, mesmo sem águas é um grande atrativo turístico...

Museu Casa de Maria Bonita - Povoado Malhada da Caiçara/Paulo Afonso-BA

Ah, senhores, e a cultura regional, tão rica, na alimentação, nas histórias dos coronéis, beatos e cangaceiros. Esse riquíssimo potencial precisa ser mais valorizado porque História também é turismo.

Com Abel Barbosa, há mais de quarenta anos, ainda nos anos 80, sem internet e com parcerias e o grande apoio do saudoso Paulo Gaudenzi, então Presidente da Bahiatursa e depois Secretário Estadual de Turismo, conseguiu-se fazer Paulo Afonso conhecida no mundo todo, pois o município foi colocado em uma revista bilíngue chamada “Os Caminhos da Bahia”.

Há pouco mais de 10 anos, num esforço grande conseguiu-se que Paulo Afonso fosse a sede do Conselho Regional da Região dos Lagos e Cânions do São Francisco, o que também lhe abriu portas e oportunidades... Infelizmente, os lagos e cânions continuam sendo um dos maiores atrativos da região mas nunca mais se falou nessa instância regional do turismo...

A Prainha de Paulo Afonso, que poderia ser um moderno Terminal Turístico de Paulo Afonso como foi sugerido em pré-projeto ao gestor municipal, continua sem ser... E ali, os velejadores da Copa Vela disseram ser uma das melhores raias do Brasil...

Há 17 anos, em 25 de novembro de 2005, numa sala da Universidade Internacional de Lisboa, em Portugal, eu defendia a minha tese de mestrado sobre o tema: Turismo e desenvolvimento sustentável em Paulo Afonso e Região dos Lagos do rio São Francisco. Todos os presentes ficaram boquiabertos quando lhes mostrei as imagens dessa região, a ponto do principal arguidor, o Professor Doutor Nelson Xavier, professor do Curso de Doutorado em Turismo em Portugal ao me aprovar dizer: Maravilhoso! Só não entendo como vocês têm tanto e não têm nada”.

Mesmo já passados 17 anos sem que o dever de casa tenha sido feito corretamente, ainda é tempo de despertar para o grande tesouro que temos nestas terras sertanejas e mostrar para europeus e gente de todo o mundo, também de outros lugares do Brasil, que podemos fazer muito, com o tanto que temos...

Para valorizar esse tesouro, senhores, busquem os apoios dos governos, em todas as instâncias, dos senhores deputados eleitos como representantes do município. E nunca recuem e se acomodem ao ouvirem o primeiro NÃO!

Espero apenas que esse, agora apenas sonhador, que aplaude este retorno dos voos para Paulo Afonso, e sente se extasia com tanta beleza que existe nesta terra que o acolheu há mais de 68 anos e que me fez cidadão há outros trinta anos, não tenha o desgosto de ver morrer a nossa galinha dos ovos de ouro, o turismo, que se apresentou a todos no começo dessa conversa...

Foto: Antônio Galdino e acervo do autor
Fonte: https://www.bahianoticias.com.br