Política não se faz sem vítimas...
"Mais vale um bife no prato do que boi no pasto!"
"O povo brasileiro prefere trocar de celular do que trocar de político!"
“O SUBVERSIVO DE PAULO AFONSO”
CAPÍTULO VII
O AI-5 foi à saída do Governo Militar para estancar a pressão que sofria para redemocratização do país, que cresceu em 1968, e também as ações da esquerda armada que ganharam espaço e audácia. Segundo os historiadores, o clima de radicalização aumentou durante aquele fatídico ano e a justificativa que os radicais de extrema direita precisavam para endurecer foi um breve discurso na Câmara dos Deputados do parlamentar, Márcio Moreira Alves, MDB, que questionou: “Quando o Exército não será um valhacouto de torturadores?” Marcito, como era chamado, tinha autoridade para pressionar os radicais: havia denunciado e provado dezenas de casos de tortura ocorridos na época de Castelo Branco.
De acordo com sociólogo Marcelo Ridenti, autor do livro O Fantasma da Revolução Brasileira, o famigerado AI-5 permitiu cassar mandatos eletivos, suspender direitos políticos dos cidadãos, demitir ou aposentar juízes e outros funcionários públicos, proibir manifestações sobre temas políticos, suspender o habeas corpus – mandado judicial que beneficiava alguém que estivesse ameaçado de sofrer coação ou detenção de forma ilegal ou abusiva – em crimes contra a segurança nacional. 1968 existiu por vários anos como sugeriu Zuenir Ventura, autor de 1968 – O Ano Que Não Terminou. “Com slogans libertários e prontidão revolucionária, tipos: (seja realista, exija o impossível; é proibido proibir); a geração do final dos anos 60 exigiu mundo afora reformas no ensino, nos governos e na sociedade”.
Em junho do interminável ano, parte da cidade do Rio de Janeiro foi às ruas na Passeata dos Cem mil, em que artistas se mesclavam com estudantes, políticos e sindicalistas. “O povo organizado derruba a Ditadura”, afirmava parte da marcha. “O povo armado derruba a Ditadura”, discordava outra parte. No mesmo mês, militantes de esquerda fizeram dois atentados a instalações militares. Era o início da luta armada contra a repressão. Os assaltos aos bancos cresciam. A Vanguarda Popular Revolucionária mata Charles Chandler, preposto da CIA. Em outubro a União Nacional dos Estudantes (UNE) organiza um congresso clandestino em Ibiúna-SP, que resultou na prisão de quase mil participantes. Os operários faziam greves em São Paulo e Minas Gerais. Todas consideradas ilegais e reprimidas com violência. Essas ações foram “passaportes” para prisões ilegais, torturas e desaparecimentos de pessoas, sob à égide do tenebroso AI 5.
Voltando ao retrovisor da História, segundo os escritos no livro 50 Anos do Golpe, a primeira tentativa armada contra o regime de exceção partiu do ex-governador gaúcho Leonel Brizola. O conflito durou oito anos, de 1966 a 1974. Apenas 1 416 civis pegaram em armas, mas suas ousadias fizeram os golpistas tremer. No auge dos embates eles assaltaram 154 bancos e carros fortes. Roubaram 3,8 milhões de dólares – valor que fez a guerrilha brasileira a mais rica do mundo na época. Também realizaram quarenta atentados a bomba, sequestraram oito aviões comerciais e quatro diplomatas. Um foco de guerrilha fez o Exército deslocar para a região do Araguaia, no atual Tocantins, 3.200 soldados em uma única operação. Foi o maior movimento de tropas em território nacional desde a Guerra de Canudos, no final do século 19.
Com o AI-5 em vigor, os grupos de esquerda amentavam suas ações bem-sucedidas. Em 1967, Carlos Marighella, militante comunista ativo desde Getúlio Vargas, fundou a ALN, (Aliança Libertadora Nacional), que agiu sem assumir a autoria de assaltos e atentados. O anonimato acabou depois do roubo de um carregamento de 31 mil dólares do Instituto de Previdência da Guanabara. Um dos envolvidos foi preso e, torturado, contou o que sabia. Dias depois, a revista Veja de 20 de novembro de 1968 anunciou: “Procura-se Carlos Marighella, chefe comunista, crítico de futebol em Copacabana, fã de cantadores de feira, assaltante de bancos, guerrilheiro e grande apreciador de batidas de limão”.
No capítulo seguinte voltarei aos relatos em primeira pessoa, após dissertar sobre a VPR, (Vanguarda Popular Revolucionária), e seu principal líder, o então capitão do Exército, Carlos Lamarca.
© 2024, Epidauro Pamplona - Todos direitos reservados.
Desenvolvido por SITIWEB